Em discurso durante a sanção do novo Código de Processo Civil, a presidente Dilma Rousseff disse que acompanhou as manifestações, no Palácio da Alvorada, e concluiu que “valeu a pena lutar pela democracia”. Lembrando que ela própria combateu a ditadura militar, Dilma afirmou que nunca mais um cidadão brasileiro sofrerá consequências por se manifestar contra quem quer que seja, inclusive contra a presidente. Emocionada, ao fim do pronunciamento, embargou a voz.
- Muitos da minha geração deram a vida para que o povo pudesse, enfim, ir às ruas para se expressar. Eu, particularmente, participei do processo de resistência à ditadura.
Sofremos as consequências da resistência para ter um país livre da censura e da opressão e da interdição da liberdade de expressão. Nunca mais nós vamos ver no Brasil pessoas que ao manifestarem sua opinião, seja contra quem quer que seja, inclusive a presidente da República, sofrerem quaisquer consequências.
Ontem, vendo centenas de milhares de cidadãos se manifestando pelas ruas brasileiras não pude deixar de pensar: valeu a pena lutar pela liberdade, valeu a pena lutar pela democracia. Este país está mais forte do que nunca - disse a presidente.
Dilma disse que o Brasil teve uma demonstração clara de que é um país democrático e que vai governar para todos.
- O meu compromisso é governar para os 203 milhões de brasileiros. Seja os que me elegeram, seja os que não votaram em mim. Seja os que participam das manifestações, seja os que não participam”, afirmou.
Antes de Dilma, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, destacou a liberdade de manifestação, lembrando que na ditadura as pessoas não podiam protestar e os ministros não davam entrevistas.
- Naquela época, se alguém batesse panela enquanto o ministro da Justiça falava, era enquadrado na Lei de Segurança Nacional, era preso. Naquela época, os ministros da Justiça diziam “nada a declarar”. Hoje eu tenho o dever de declarar. Bem-vinda, democracia - afirmou Cardozo.
Dilma afirmou ter certeza de que os brasileiros querem um país em que “todos possam exercer seus direitos pacificamente, sem ameaças e sem desrespeito às liberdades civis e às liberdades políticas”.
Para a presidente, mesmo diante de apelos “a aventuras e a rupturas da normalidade política”, o país escolheu o caminho da democracia. Dilma destacou que o seu governo assegurou “absoluta liberdade de atuação” à Polícia Federal e “total autonomia” ao Ministério Público na investigação de crimes de qualquer espécie e de todos os envolvidos.
MEDIDAS
As medidas anticorrupção que a presidente Dilma Rousseff pretende enviar ao Congresso como resposta às manifestações que tomaram as ruas no último domingo já tramitam na Câmara e no Senado e, até o momento, o governo não havia se empenhado na sua aprovação.
Um dos itens que faz parte do pacote de Dilma é a transformação da prática de caixa dois em crime. Em julho de 2013, o senador Jorge Viana (PT-AC) apresentou projeto com essa tipificação. A proposta está numa das comissões da Casa. O senador petista acredita que um projeto enviado pelo Executivo tramita com mais rapidez e tem mais chance de ser aprovado:
A corrupção é uma senhora idosa, afirma presidente
Indagada sobre as declarações do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que disse que a corrupção está no Executivo e não no Legislativo, a presidente respondeu:
- A corrupção não nasceu hoje. Ela é uma senhora idosa, e pode estar em qualquer lugar, não poupa ninguém. Ela pode estar, inclusive, no setor privado. Não vamos achar que tem qualquer segmento acima de qualquer suspeita. O combate a corrupção começa também através de um processo educacional. O fato de você não querer tirar vantagem em tudo na sua vida.
Dilma comentou sobre as mudanças no Fies e afirmou que o governo cometeu um erro ao deixar que as universidades ficassem responsáveis pelo processo de matrícula de novos alunos:
- No caso do Fies, nós tivemos um erro. O governo cometeu um erro: passou para o setor privado o controle dos cursos. Esse erro nós cometemos, voltamos atrás, estamos consertando.