Zeca Camargo aproveitou a comoção pela morte do cantor Cristiano Araújo, na última quarta-feira (24), para nadar contra a maré. Em uma crônica exibida no “Jornal das 10”, da GloboNews, neste domingo (28), o jornalista criticou a música sertaneja, a cobertura da televisão - dentre elas, a própria Globo - e a comoção pelo acidente que vitimou o cantor e sua namorada, Allana Moraes.
Dizendo não saber que Cristiano Araújo tinha tantos fãs, Zeca ironizou uma suposta necessidade do brasileiro em precisar de uma tragédia para se unir, fazendo uma analogia com o acidente, a falta de heróis atuais e livros de colorir. "Precisamos de novos heróis, mas estão todos ocupados pintando jardins secretos", disse ele, que associou o estilo sertanejo como um todo a uma suposta falta de cultura da sociedade atual.
O comentário ácido não agradou quem faz parte do meio sertanejo. Na rede social Instagram, vários artistas se juntaram aos fãs do estilo musical para protestar contra o jornalista. Usando a tag #QuemÉZecaCamargo, nomes como Sorocaba, Mariano e Israel Novaes publicaram fotos tampando os ouvidos.
A dupla Henrique e Juliano também utilizou o seu perfil para protestar contra Zeca Camargo, e utilizou uma foto de uma privada.
O cantor Belutti, da dupla Marcos e Belutti postou uma foto em seu Instagram tapando os ouvidos, referindo-se ao comentário feito por Zeca em relação ao estilo de música sertaneja e a morte de Cristiano Araújo.
Veja trechos da fala de Zeca
"Muita gente estranhou a comoção nacional diante da morte trágica e repentina do cantor Cristiano Araújo. A surpresa maior, porém, vem do fato de ser tão famoso e tão desconhecido. O Brasil, felizmente, tem um punhado de artistas que não passam pelo radar da grande mídia, nem são um consenso popular, mas que levam multidões para seus shows. [...] O que realmente surpreende neste evento triste da semana foi a comoção nacional. De uma hora para outra, fãs e pessoas que não faziam ideia de quem era Cristiano Araújo partiram para o abraço coletivo, como se todos nós estivéssemos desejando uma catarse assim, um evento maior que nos unisse pela emoção", contou Zeca.
Zeca ainda relembrou os grandes funerais públicos, que existem, segundo ele, para "expulgar nossas dores, como se tivessem uma capacidade purificadora". "É só lembrar as despedidas de Cazuza, Ayrton Senna, Kurt Cobain, Lady Diana, Michael Jackson, Mamonas Assassinas. Mas Cristiano Araújo? Sim. Eles sim eram, guardadas as proporções, ídolos de grande alcance. Como fomos, então, capazes de nos seduzir emocionalmente por uma figura relativamente desconhecida?", questionou.
O jornalista fez, então, um paralelo com a onda dos livros de colorir, que se tornaram um grande sucesso no país. "A resposta está nos livros para colorir! Sim, eles mesmos! Os inesperados vilões do nosso cenário pop, acusados de destacar a pobreza da atual alma cultural brasileira. Não vale a pena discutir os verdadeiros valores desses produtos, se é que eles existes. Mas eles vem bem a calhar para fazermos um paralelo com a ausência de fortes referências culturais que experimentamos no momento", disse.
Por fim, Zeca -- que é contratato da TV Globo e está prestes a estrear o programa É de Casa nos sábados de manhã -- criticou a "insana cobertura" da mídia. "A morte de Cristiano Araújo e a quase insana cobertura de sua despedida vestiu a carapuça de um contorno de linhas pretas num papel branco, só esperando a tinta das emoções das pessoas para ganhar cor e, quem sabe, significado. Como robôs coloristas preenchemos aqueles desenhos na ilusão de que estamos criando alguma coisa. Assim como ao nos mostrarmos abalados com a ausência de Cristiano, acreditamos estar comovidos pela perda de um grande ídolo. Todos sabemos que não é bem assim. Talvez o cantor tenha morrido cedo demais para provar que tinha potencial para se tornar uma paixão nacional. Nossa canção popular é hoje dominada por revelações de uma música só, que se entregam a uma alucinada agenda de shows para gerar um bom dinheiro antes que a faísca desse sucesso singular apague sem deixar uma chama mais duradoura. E, nesse cenário, qualquer um pode, nem que seja por um dia, ser uma estrela maior. Teria sido esse o caso de Cristiano Araújo? [...] Temos tudo para adorarmos ídolos de verdade, e chorar de verdade seja pela presença dele no palco ou na saudade da perda. Mas, agora, olhando em volta, não vemos nada disso", completa o jornalista em seu texto.