Os deputados Jair Bolsonaro (PP-RJ) e Marcos Feliciano (PSC-SP) usaram as redes sociais neste fim de semana para acusar o Exame Nacional do Ensino Médio de doutrinação. O motivo da reclamação foi uma questão da prova de ciências humanas, que abordou a célebre frase "Não se nasce mulher, torna-se mulher", da escritora e filósofa francesa Simone de Beauvoir. A questão abordava o tema das lutas feministas no início do século XX.
"Mais ou tão grave quanto a corrupção é a doutrinação imposta pelo PT junto a nossa juventude", afirmou Bolsonaro em seu perfil pessoal no Facebook, na noite deste sábado (24). "O João não nasceu homem e a Maria não nasceu mulher", ironizou ele.
"O sonho petista em querer nos transformar em idiotas materializa-se em várias questões do ENEM (Exame Nacional do Ensino MARXISTA)", completou o deputado.
Na tarde deste domingo (25), Marcos Feliciano também usou seu perfil no Facebook para criticar a questão.
"Essa frase da Filósofa Simone de Beauvoir é apenas opinião pessoal da autora, e me parece que a inserção desse texto, uma escolha adrede, ardilosa e discrepante do que se tem decidido sobre o que se deve ensinar aos nossos jovens", disse ele.
"Esse texto se encaixa como luva na teoria de gênero, apesar de questionável por se tratar da opinião de uma mulher polêmica, feminista da mais retrógrada cepa, com linguajar que denigre as mulheres comparando-as aos eunucos criando um limbo entre o homem e a mulher muito em voga nos anos 60", continuou. Segundo ele, o objetivo de sua crítica foi "vigiar quando tentam impingir a teoria de gênero goela abaixo, com subterfúgios, quando não conseguem nas casas legislativas".
O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, rebateu os deputados em entrevista coletiva na noite deste domingo (25). Segundo o ministro, a escritora e filósofa teve "grande contribuição" sobre a condição da mulher na sociedade. Ele lembrou que, no passado, as mulheres não podiam votar e eram consideradas incapazes, sem direitos. "Esse é o contexto do debate. Pessoas podem divergir. Na educação, tem de estar aberto a discutir, a aceitar", declarou.
Mercadante acrescentou que não teve acesso às questões antes da prova, por conta do sigilo imposto. "A prova é feita com total sigilo, eu só descobri o tema da redação no exato momento em que ele foi divulgado para vocês. São pesquisadores, professores universitários de competências reconhecidas nas suas áreas."
Sobre o tema da redação, que abordou a violência contra as mulheres, ele afirmou que é um assunto importante e que ainda está presente na sociedade brasileira. Ele disse ainda que achou o tema "excelente" para que os mais de sete milhões de participantes reflitam sobre isso. "Em relação ao tema da redação, é inquestionável. Somos uma sociedade em que ainda há muita violência contra a mulher", disse ele.
"Eu achei uma excelente escolha, defendo completamente a prova, estão de parabéns os que o fizeram. Quem sabe debatendo essa questão a gente consiga diminuir a violência, vai ser um grande avanço para a sociedade brasileira", concluiu.
Elogios ao tema da redação
A questão citando Simone de Beauvoir foi uma das mais mencionadas nas redes sociais depois do primeiro dia de provas do Enem. Neste domingo, porém, as questões de gêneros voltaram aos cadernos de prova do exame.
O tema da redação do Enem 2015 foi "A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira". O tema gerou polêmica nas redes sociais, mas foi bem recebido por outros políticos.
Renato Janine Ribeiro, que foi ministro da Educação entre abril e setembro, afirmou ao G1 que não sabia qual seria o tema da redação, mas que o considerou muito bom. "Como ministro não tomei conhecimento do tema. Foi uma surpresa, mas achei o tema muito bom. Considero que coloca a questão da desigualdade entre os gêneros e a questão da opressão que ocorre sobre as mulheres", disse ele.
A deputada Maria do Rosário (PT-RS) também elogiou o tema. "Boa escolha! Tema de redação do Enem diz respeito e deve ser conhecido de todas as pessoas: violência contra a mulher", disse ela, pelo Twitter.