Foi com uma boa dose de apreensão que Renato Aragão recebeu a notícia de uma nova versão de "Os trapalhões". O receio era justificado: apesar de já estar fora do ar há muito tempo, o programa ainda permanece na lembrança de pelo menos três gerações que, durante 18 anos, acompanharam, sempre ao domingo, às 19h, as aventuras de Didi, Dedé, Mussum e Zacarias.
O temor chegou ao fim logo nos primeiros dias de gravação, quando Renato e Dedé Santana começaram a trabalhar com Lucas Veloso, Bruno Gissoni, Mumuzinho e Gui Santana – ou Didico, Dedeco, Mussa e Zaca. Novos companheiros de humor e, pelo menos a princípio, maior motivo de preocupação do principal nome dos trapalhões.
"Para ser bem sincero, quando me falaram que iriam fazer uma nova versão, fiquei preocupado. Não tanto pelo legado dos trapalhões – isso ninguém apaga. O que nós fizemos vai permanecer, inclusive no humor que é feito nos dias de hoje", disse Aragão em evento com jornalistas nesta terça-feira (11).
"Meu receio era por esses meninos. Sabia que haveria comparações conosco e isso poderia ser injusto com eles. Tinha medo que as gerações que cresceram assistindo 'Os Trapalhões' os rejeitassem. Mas eles se saíram tão bem, que esse meu medo desapareceu por completo. Tenho certeza de que o público vai gostar", disse Aragão.
Dirigidos por Fred Mayrink – e com textos escritos por Péricles Barros e Mauro Wilson – os nove episódios irão ao ar no canal Viva a partir do dia 17. Em setembro, a produção chegará às tardes da TV Globo.
Os atores da nova versão se encarregaram de deixar claro quais eram as inspirações do elenco. Segundo eles, não há qualquer intenção de tomar os lugares dos originais.
"Nós não queremos substituir ninguém – isso seria impossível. O que Didi, Dedé, Mussum e Zacarias fizeram na televisão foi especial demais e não precisa de substituição. Desde o início, o que quisemos foi prestar uma homenagem aos Trapalhões. Foi essa ideia que me motivou a participar do projeto. E acredito que chegamos a um resultado muito bom", avaliou Mumuzinho, que encarna Mussa. Para compor o personagem, ele contou com ajuda especial.
"Conversei demais com a família do Mussum. Os filhos dele me ajudaram muito nesse processo. Além disso, entrava na internet todas as noites, selecionava as cenas do programa antigos das quais ele participava e dormia escutando os maneirismos dele. Isso foi fundamental para eu entrar no tom que ele imprimia", relembrou.
Segundo o diretor, os diálogos dos novos quadros vão gravitar ao redor dos temas que fizeram o sucesso dos Trapalhões: amizade, malandragem, problemas financeiros e situações cotidianas. Por outro lado, a abordagem antes marcada pela incorreção política será evitada.
"Queremos fazer uma atração para toda a família, como o programa sempre foi. O que se denomina de 'politicamente incorreto' de fato aparecia nos Trapalhões, mas de maneira lateral, secundária, nunca como tema principal. Decidimos nos concentrar nas situações divertidas", explicou Mayrink. Quando questionado sobre o assunto, Aragão disse concordar com a resposta do diretor. "Temos que ter respeito pelas pessoas", resumiu.
"Acho que não há necessidade de ofender ninguém para ser engraçado. Humor sobre minorias e coisas do tipo. Isso fica muito claro para mim, que interpreto o Zaca. O personagem tem uma certa carga de inocência. Foi nisso que decidi investir", disse Gui Santana, que possui um passado ligado a um tipo de comédia mais corrosiva, como o que costumava apresentar no programa 'Pânico'. "São propostas muito diferentes. O que eu fazia no 'Pânico' não cabe nos 'Trapalhões'".
Quadros clássicos de volta
Entre os quadros da nova atração, será possível acompanhar a volta de alguns clássicos do programa original. Entre eles, uma reedição da canção "Papai, eu quero me casar", que na primeira versão era interpretada por Didi e Zacarias, além das reuniões de super-heróis e do quadro do quartel – agora, o papel do sargento Pincel, antes interpretado por Roberto Guilherme, ficará nas mãos de Ernani Morais.
"Havia acabado de chegar de viagem quando me ligaram perguntando se eu queria interpretar o Dedeco. Eu quase não acreditei que teria a chance de trabalhar com meus heróis de infância", disse Bruno Gissoni.
"Conversamos bastante e expliquei para o Bruno que ele tem aquele que, talvez, seja a função mais importante: o trapalhão que não é engraçado. Assim como eu sempre fiz, ele vai preparar a piada para que os outros possam brilhar. É um papel fundamental", explicou Dedé Santana.
E como Renato Aragão se sentiu ao ver uma versão de si mesmo na pele de Lucas Veloso? "Impressionado. Conversamos bastante e ele pegou tudo: o jeito de falar do Didi, os maneirismos, o sotaque. Tudo está perfeito. Assim como os outros meninos, o Lucas fez um ótimo trabalho".