Uma extensa reportagem publicada nesta sexta-feira, 8, pela BBC Brasil denuncia a existência de um suposto "exército" de perfis falsos em redes sociais que teriam sido usados para influenciar eleições no Brasil em ao menos duas ocasiões.
A estratégia seria a mesma que agentes russos usaram para manipular o debate online nas eleições dos EUA no ano passado, e que obrigou Mark Zuckerberg a pedir desculpas pelo papel do Facebook nessa história. Aparentemente, a mesma ideia está em prática no Brasil desde 2012.
A reportagem da BBC Brasil identificou diversos ex-funcionários de uma empresa que disseram ter sido pagos para criar perfis falsos no Facebook e no Twitter. Esses perfis eram encarregados de elogiar certos políticos e criticar seus oponentes em períodos de eleição.
O salário dos chamados "ativadores" ia de R$ 800 a R$ 2.000 por mês. Um deles chegou a gerenciar 17 perfis ao mesmo tempo no Facebook.
Além de postar a favor e contra certos políticos, ele precisava também fazer postagens genéricas, como "bom dia", "boa noite" e comentários do cotidiano, para driblar o sistema anti-fakes do Facebook.
Além disso, os fakes também adicionavam pessoas reais para influenciar o debate nas redes. A prática é um pouco diferente da utilizada pelos chamados bots, que são perfis gerenciados por máquinas e programados para influenciar determinados assuntos online, inflando o volume de certas hashtags, por exemplo.
Neste caso, porém, o que esta empresa teria usado são os chamados "ciborgues": perfis robôs gerenciados por humanos, e não por um programa de computador.
Desse modo, eles tinham menos chances de serem pegos no pente fino do Facebook e ainda tinham mais chance de enganar outros usuários.
De acordo com a BBC Brasil, ao menos 13 políticos brasileiros teriam se beneficiado destas ações de fakes. No entanto, "não há evidências de que os políticos soubessem" da atuação dessa empresa. Os nomes citados pelos perfis falsos incluem os senadores Aécio Neves (PSDB-MG) e Renan Calheiros (PMDB-AL) e o atual presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE).
A empresa supostamente responsável pelo tal exército fake seria a Facemedia, uma agência de comunicação digital sediada no Rio de Janeiro. O empresário Eduardo Trevisan, dono da companhia, negou que tenha contratado pessoas para criar perfis fakes e manipular o debate político nas redes dessa forma.
"A gente nunca criou perfil falso. Não é esse nosso trabalho. Nós fazemos monitoramento e rastreamento de redes sociais", disse Trevisan à BBC Brasil. "Os serviços em campanhas eleitorais prestados pela Facemedia estão descritos e registrados pelo TSE, de forma transparente. Por questões éticas e contratuais, a Facemedia não repassa informações de clientes privados."
Os políticos e partidos citados também negaram saber do que se trata o tal exército de fakes, mas alguns admitiram ligação com a Facemedia. A assessoria do PSDB disse que contratou a empresa de Trevisan em 2014 para o "monitoramento e análises de movimentos e tendências em redes sociais", e que "desconhece o suposto uso de perfis falsos".
Eunício Oliveira, Renan Calheiros e Aécio Neves disseram que não conhecem a Facemedia e nem têm conhecimento do uso de perfis falsos em campanhas do tipo. Ainda de acordo com a reportagem, há risco de essa tática ser enquadrada no crime de falsidade ideológica.
Facebook e Twitter dizem que perfis falsos são proibidos e que atuam para derrubar o maior número possível deles. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no entanto, ainda não definiu regras claras sobre o que pode e o que não pode ser feito em termos de campanha eleitoral nas redes sociais.