Em colapso desde 2008, o setor guseiro em Marabá sofreu mais um abalo esta semana, com o fechamento da Cosipar (Companhia Siderúrgica do Pará), a pioneira do Distrito Industrial de Marabá e que ajudou a atrair outras empresas deste segmento para o DIM. Cerca de 400 funcionários foram despedidos, mas não conseguiram receber seus direitos, segundo o Sindicato dos Metalúrgicos de Marabá.
Na portaria da empresa, ontem (26) pela manhã, vários funcionários tentaram falar com o Departamento de Recursos Humanos, mas não conseguiram. À tarde, a ordem era não deixar entrar ninguém da Imprensa e nem “cobradores”, ou seja, os fornecedores também estão com problemas para receber da empresa.
A reportagem levantou que a crise na Cosipar se instalou por falta de minério a um preço competitivo para poder fabricar ferro-gusa. A empresa comprava minério da Vale a 180 dólares cada tonelada, produzia o gusa, mas só conseguia cerca de 90 dólares por tonelada na hora de repassar o produto ao mercado externo. A siderúrgica ainda tentou adquirir minério de outro fornecedor, mas não conseguiu.
No auge de sua produção, o Distrito Industrial de Marabá chegou a ter 21 altos fornos de dez siderúrgicas diferentes. Agora, funcionam apenas um da Sinobras (produzindo gusa para consumo próprio), 1 da Ibérica e três da Sidepar, totalizando quatro em funcionamento. Esta última siderúrgica tem situação privilegiada porque é proprietária de uma mina em Floresta do Araguaia.
Vertical Mineração
Segundo Zeferino Abreu Neto, o “Zé Fera”, gestor da Maragusa, siderúrgica que está com altos fornos abafados, uma novidade deverá ressuscitar tanto a Maragusa quanto Cikel, Da Terra e Sidenorte. Elas se uniram e formaram a Vertical Mineração, empresa que comprou uma mina de ferro em Curionópolis e terá capacidade para produzir 200 mil toneladas de minério por ano.
Juntas, as quatro siderúrgicas só deverão consumir 100 mil toneladas e o excedente deverá ser vendido para outros consumidores. A mina tem capacidade para fornecer minério durante 200 anos, segundo Zé Fera.
Todas as licenças para o início da operação já foram concedidas pelos órgãos ambientais, mas a Vertical Mineração ainda não tem data para começar a funcionar, porque ainda está em fase de compra de equipamentos. A jazida da Vertical situa-se numa das serras que circundam a cidade de Curionópolis, vizinha à Serra Leste.
Zé Fera disse que o Sindiferpa (Sindicato das Indústrias de Ferro Gusa do Pará) lamenta o fechamento da Cosipar, embora aquela indústria não fizesse mais parte de seu rol de membros. Ele reconheceu que a empresa foi heroica por sobreviver diante de um período conturbado tão longo. “Ela é um símbolo do pioneirismo, tem uma estrutura forte e conseguiu o respeito nesta região. Mas isso não quer dizer que não volte a funcionar. A própria Vertical poderá fornecer minério para a Cosipar”, disse Zé Fera.
Desempregados
Em entrevista à Imprensa, nesta sexta-feira, 26, Neiba Nunes Dias, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Marabá, reconheceu que desde 2008 a crise se instalou no Distrito Industrial de Marabá vinda dos Estados Unidos, Europa e Ásia. Por conta disso, a Cosipar vinha trabalhando no vermelho e chegou a um ponto que não deu mais. “Ela correu atrás de parceiro para fornecer minério mais barato que o da Vale, mas não deu certo, buscou parceiros para financiar a produção e também não conseguiu”, lamenta.
Neiba lamenta a demissão de quase 400 funcionários, considerando esse fato uma perca muito grande para o município. “Sabemos que a Cosipar foi a pioneira, a que ajudou a fundar o Distrito Industrial e hoje está se acabando dessa forma, sem que as autoridades estaduais ou municipal tomem providências”, criticou.
Diante da demissão coletiva, a empresa alega que não tem recursos para pagar os direitos trabalhistas e o sindicato entrará com a demanda coletiva na Justiça, a partir da próxima semana. “Se a Cosipar não tiver recursos para pagar, os bens poderão ser bloqueados e leiloados para compensar os trabalhadores”, explica Neiba.
Histórico
Construída em 2 de junho de 1986, a Cosipar foi implantada graças ao espírito pioneiro de seus empreendedores, ao incentivo governamental e o apoio da então Companhia Vale do Rio Doce, a Vale. A Cosipar foi a primeira indústria de ferro-gusa a se instalar em Marabá. Na época, a companhia era administrada pelo Grupo Itaminas, tendo sido depois adquirida 100% pelo sócio Luiz Carlos da Costa Monteiro.