Ao comentar a atuação do governo de Barack Obama no caso Edward Snowden, o senador republicano John McCain tinha como objetivo principal atacar o democrata - para quem perdeu nas eleições presidenciais americanas de 2008 - mas, por tabela, evocou uma lembrança difícil de não se ter no atual momento das relações entre Estados Unidos e Rússia.
- Parece com os dias da Guerra Fria quando você ouve um porta-voz russo dizendo que ele (Snowden) não está na Rússia, quando todo fragmento de prova indica que ele está - protestou McCain em entrevista à rede CNN, em meio a cobranças para que Obama falasse mais grosso com Moscou. Segundo o republicano, ser mais firme não é sinônimo de confronto, “mas uma adesão intensa aos princípios defendidos por muitos presidentes desde a Guerra Fria e antes, para que o mundo tenha respeito”.
Para especialistas ouvidos pelo GLOBO, a referência à Guerra Fria é válida, mas com as devidas ressalvas. A principal delas: até o momento, nada indica o risco de um confronto armado entre americanos e russos, temor persistente nos anos entre o fim da Segunda Guerra Mundial e a extinção da União Soviética.
- Remete um pouco à Guerra Fria, com certeza. O posicionamento de Putin é a maneira que a Rússia tem para mostrar que acredita no equilíbrio dos poderes. Também há a consolidação de um eixo sino-russo como antagonista dos EUA. Mas não está mais em questão um conflito direto - diz Numa Mazat, professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro e estudioso da geopolítica das relações EUA-Rússia.
Para Paulo Pereira, professor da Faculdade de Relações Internacionais da PUC-SP, a lembrança da Guerra Fria não é tão rara, mas ocorre em outros termos.
- Vira e mexe isso se apresenta. O conflito de potências é um conflito de interesses. Qual o ganho que a Rússia tem com uma cooperação com os EUA? - questiona.
Fora a memória, o momento atual aponta para um pano de fundo mais amplo nos atritos entre o Kremlin e a Casa Branca.
- A Rússia não quer ceder a nenhuma pressão dos EUA. Você pode vincular isso à questão síria. Me parece perfeitamente lógico - analisa Mazat.