O que já foi o carro-chefe da economia de Marabá, chegando a empregar, em 2008, quase 9 mil funcionários, com 11 guseiras, agora só tem uma, a Ibérica, que emprega pouco mais de 250 funcionários. A penúltima guseira, a Sidepar - Siderúrgica do Pará – anunciou o fechamento na segunda-feira (26), colocando no olho da rua, nada menos de 800 trabalhadores.
No final do ano passado, essa pedra tinha sido cantada. Mas naquela ocasião, a diretora administrativa da Sidepar, Juliana Farias, disse que houve apenas o desligamento de 54 trabalhadores da área da construção civil que foram contratados para obras no local e que tiveram os contratos finalizados por conta da falta de obras no momento. Agora não deu mais para encobrir a verdade. O fim chegou.
Apesar de ter sua própria fonte de ferro gusa (uma mina em Floresta do Araguaia), alguns sinais vinham deixando claro que a derrocada iria acontecer. Em 2013, a empresa vendeu US$ 177 milhões, mas lucrou apenas US$ 1,3 milhão, renda de 2,1%. Isso correu porque o preço do gusa pago pela China é de US$ 200 a tonelada, enquanto o custo de produção já passava dos US$ 300.
As causas
Mas o que acontece com a Sidepar não vem de hoje e nem tem apenas uma causa. Além da crise financeira internacional, iniciada em 2008 e acentuada em 2009, as guseiras que atuam em Marabá começaram a enfrentar outro problema sério: a fiscalização dos órgãos ambientais. E não foi apenas o Ibama que agiu, como costuma ser.
A Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema) desencadeou fiscalizações e emitiu multas milionárias, numa ação inédita, nunca feita nem antes e nem depois pela Sema.
A fiscalização conseguiu descobrir que grande parte do carvão vegetal que alimentava as guseiras provinha de área de desmatamento. Era, portanto, ilegal. A própria Sidepar foi multada em R$ 200 milhões. Mas isso não é tudo.
A produção do carvão era feita de forma degradante, utilizando trabalho infantil e o chamado “forno rabo quente”, onde os trabalhadores não dispunham de qualquer equipamento de proteção, ficando exposto à fumaça dos fornos e ao sol causticante da região. Além de tudo, ter Carteira de Trabalho assinada no setor sempre foi algo raro.
Inclusive, em 2013, uma fiscalização do Grupo Móvel de Combate ao Trabalho Escravo libertou 125 trabalhadores que estavam fabricando carvão vegetal para a Sidepar. Todos estavam em situação degradante e em trabalho análogo à escravidão.
Ficava claro, ali, que este importante setor da economia marabaense, que chegou a gerar 32 mil empregos em toda a sua cadeia produtiva, estava alicerçado sobre o trabalho degradante e crimes ambientais.
E foi assim, com as exigências trabalhistas e ambientais juntadas à queda vertiginosa do preço do gusa no mercado internacional que o parque industrial chegou ao fim.
Sinobras
Mas vale lembrar que toda essa falência múltipla de órgãos não computa os dados da Siderúrgica Norte do Brasil (Sinobras), isto porque a empresa não é uma guseira como as demais, mas já atua no ramo da produção de aço e não de exportação do gusa. Hoje a Sinobras é um gigantesco complexo industrial cercado de fábricas fechadas por todos os lados.
E a partir do segundo semestre de 2016, começa a expansão da produção de aço, que fará a fábrica de Marabá saltar das atuais 300 mil toneladas/ano para 800 mil toneladas.
Esse investimento, que já recebeu aval do governo do Estado e da Prefeitura de Marabá, vai movimentar diretamente a economia local, aumentando sobremaneira os empregos diretos oferecidos pela empresa, que atualmente somam 1.320 postos de trabalho.
Possivelmente alguns dos trabalhadores que agora amargam a demissão e seus efeitos devastadores, podem ser encaixados na Sinobras, mas ainda resta muito tempo antes que as contratações ocorram, pois o empreendimento vai movimentar primeiro a construção civil.
Direitos
Fechada em outubro de 2012, a Cosipar, que já foi a maior guseira dos tempos áureos do Distrito Industrial de Marabá, até hoje, ainda não pagou todos os direitos trabalhistas dos metalúrgicos demitidos. E isso preocupa os trabalhadores que foram mandados embora da Sidepar agora.
Segundo Neiba Nunes Dias, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Marabá (Simetal), por se tratar de demissão coletiva, o Simetal vai acompanhar todo o processo de desligamento e rescisão, justamente para garantir que o drama vivido pelos funcionários da antiga Cosipar não se repita.
Ainda de acordo com Neiba Dias, a empresa garantiu que o dinheiro de pagar as indenizações está garantido. Mas a empresa, no final do ano, também disse que ninguém seria demitido.
Além disso, resta saber se as empresas fornecedoras da Sidepar terão o mesmo tratamento dos trabalhadores ou se precisarão ingressar na Justiça para receber o que lhes é devido.