Parafraseando o filósofo e historiador Leandro Karnal, pode-se dizer que um recibo de dentista comprado para fraudar o Imposto de Renda, assim como um atestado médico falso para justificar uma falta injustificável no trabalho ou na escola e até mesmo conduzir um veículo pelo acostamento são atos que comprovam que a corrupção está presente em todos os campos sociais. Não é uma mancha presente apenas na vida dos políticos. Seguindo mais adiante, pode-se dizer que a corrupção mata.
E já que falamos em trânsito, o assunto é exatamente este. Circulou esta semana a notícia de que nada menos de 28.700 Carteiras Nacionais de Habilitação (CNH) foram suspensas em Marabá, recentemente, porque foram obtidas de forma fraudulenta. Foram compradas, par ser mais direto.
Essa teia de corrupções, da qual certamente fazem parte agentes públicos, pessoas ligadas a autoescolas e logicamente os pretensos “motoristas”, é mais danosa do que a simples burla do processo legal. Não se trata apenas queimar etapas e obter logo a CNH, sem passar por medidas protocolares. O resultado disso tudo são as ruas manchadas de sangue. Pelo menos este é o efeito de sentido produzido pelos números oficiais das mortes no trânsito em Marabá.
A estatística fornecida pelo Departamento Municipal de Trânsito e Transporte Urbano (DMTU), relativas aos acidentes ocorridos dentro dos limites do município, no ano de 2015, revela que 86% dos acidentes foram provocados por culpa do condutor dos veículos.
Essa culpa se caracteriza por falta de atenção, ultrapassagem indevida, velocidade incompatível, distância de segmento inadequada e desobediência à sinalização. Isso ocorre porque o condutor não passa por teste prático, exame de legislação ou avaliação psicotécnica. Simplesmente paga por isso e recebe a CNH prontinha.
Pergunta-se, então, quantas das 87 vítimas no trânsito em Marabáno ano passado tiveram suas vidas ceifadas por causa de condutores que simplesmente compraram suas Habilitações, justamente porque não estavam prontos para sair por aí conduzindo um veículo?
Ou quantas pessoas estão hoje internadas – algumas amputadas – num leito de hospital, como resultado de sua própria corrupção ou da corrupção de outro? E ao se questionar isso é preciso compreender que não é pouca gente. Afinal, mais de 80% dos leitos do Hospital Regional Público do Sudeste, em Marabá, estão permanentemente ocupados por pacientes que foram vítimas de acidentes de trânsito.
Para o diretor do Detran em Marabá, Gilvam Soares, essa relação entre corrupção e as mortes no trânsito é direta.
“A gente acredita que isso contribui com o grande número de óbitos e de acidentes”, resumiu, em entrevista ao repórter Gebson Assunção, da TV Livre.
Ele observa que o Ministério Público e o Detran estão fazendo sua parte nessa questão toda, mas cabe ao cidadão se conscientizar e buscar sua CNH utilizando os meios legais. “Não cabe a nós julgar nem perseguir ninguém. O caso está no âmbito do Judiciário e os envolvidos terão que se esclarecer”,