O governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado de Transportes (Setran), cancelou a concorrência 035/2012, cujo objetivo era restaurar os 163 quilômetros da Rodovia PA-150, entre Goianésia do Pará e Morada Nova, em Marabá. A decisão foi publicada no Diário Oficial do Estado, do último dia 28 de janeiro, mas é datada do dia 23 e assinada pelo presidente da Comissão Permanente de Licitação da Setran, José Gaudenço Barrio Menescal, sem explicação alguma para a anulação.
O cancelamento frustra, mais uma vez, condutores que precisam se deslocar pela estrada até Belém ou vice-versa, muitos dos quais agora, para escapar das más condições da estrada, repleta de buracos e depressões, estão fazendo o que parece impossível, em tempos de combustível mais caro e crise econômica: preferem trafegar pelas rodovias federias BR-222, BR-010 e BR-316 até alcançar a capital, numa viagem de 650 quilômetros, 100 a mais do que indo pela PA-150.
O motivo não é outro senão escapar de trechos críticos como Tailândia–Moju e Jacundá–Nova Ipixuna, considerados pelos motoristas os dois perímetros mais perigosos da estrada tanto em relação à possibilidade de acidentes quanto à ocorrência de assaltos.
Crateras
À altura de Moju, uma placa anuncia a restauração do trecho que vai até Tailândia, mas, quem viaja pela rodovia ainda não vê grandes transformações e sim a pista cada vez mais estreita pelas crateras que avançam para o meio da rodovia.
Já o trecho entre Goianésia e Tailândia, que no entendimento de quem viaja pela estrada não apresentava muitos problemas, teve prioridade e foi recapeado recentemente.
Ouvido pela reportagem, o caminhoneiro Eduardo Nascimento Silva, 44 anos, proprietário de um caminhão que faz fretes frequentemente para Jacundá, conta que os 102 quilômetros entre Marabá e aquela cidade: "Esse trecho está péssimo, horrível.
Desgraça o caminhão, quebra mola e amortecedor na buraqueira. A gente espera mais da parte dos nossas governantes. Outro dia começaram a tapar uns buracos, mas pararam pela metade", conta ele.
Eduardo também reclama da falta de sinalização e diz já socorreu muita gente vítima de acidente na PA-150. "São vítimas de batida de carros que tombam ao desviar de buracos ou são forçados a passar para a contramão e acabam batendo".
"Coisa ruim"
O condutor desabafa dizendo que, "infelizmente temos um Estado rico que na verdade deixa a desejar" porque não tem boas estradas, "não tem nada".
O condutor, que comemora o fato de, nunca ter sofrido acidente, aproveitou para fazer um apelo ao governo do Estado: "Que eles de fato façam alguma coisa por nós".
Outro caminhoneiro, José Fernandes da Silva, 53 anos, que há 33 dirige pelas estradas do Estado, define a PA-150 de um modo bem assustador: "Se você pensar em uma coisa ruim na vida, pense nessa estrada. Infelizmente, nós vamos por ela, porque tem de ir mesmo".
Segundo ele, devido a essa condição de má conservação da rodovia, os prejuízos para os proprietários de veículos são inúmeros. "Na semana passada mesmo, um colega meu, que dirige caminhão boiadeiro, teve um prejuízo de mais de R$ 2 mil. Bateu num buraco e arrancou uma das rodas do caminhão, acabou com tudo", contou ele.
Fernandes também alerta para o fato de que os buracos na estrada facilitam a ação de bandidos e levam insegurança a condutores e viajantes. "Outro colega meu, que dirige uma carreta de uma siderúrgica de Marabá, quando trafegava depois de Tailândia, ficou entre o fogo cruzado quando quatro bandidos promoviam um tiroteio".
Assaltos
Ele lembra que há trechos da estrada em que o caminhoneiro tem de passar bem devagar, quase parando, para transpor a buraqueira, e assim vira presa fácil de assaltantes.
José Fernandes, afirma que a maioria das viagens que faz é para o Nordeste do País e, quando indagado sobre a atuação dos órgãos de segurança pública nas estradas do Pará, dá um sorriso e diz que prefere não falar.
Mesaque Alves Lacerda, 30, caminhoneiro, também trafega pela PA-150 diariamente e diz que a rodovia está "terrível" e conta que o trecho entre Moju e Tailândia é um dos mais críticos, intransitável. "Ali acontecem acidentes com frequência por causa dos buracos. É caminhão que cai no buraco, é caminhão que vai desviar do buraco e bate de frente com o outro, freia e vem outro e bate atrás", descreve o condutor.
Lacerda ressalta ainda que as peças do caminhão ficam desgastadas mais rapidamente, elevando os gastos com manutenção, sem falar no próprio cansaço físico: "O resultado é que um a viagem que deveria seis horas acaba durando nove ou dez horas".
Ele confirma ainda as palavras de José Fernandes em relação à insegurança na rodovia devido à lentidão causada pela buraqueira: "Ontem [quarta-feira], assaltaram um ônibus, na terça-feira, um carro-forte, assim como muitos caminhoneiros têm sido assaltados. Eles [os assaltantes] aproveitam que o motorista tem de passar bem devagar pelos buracos a assaltam".
"Eu gostaria que o governo fizesse alguma coisa por nós, para melhorar as estradas. O nosso Pará tem condições de consertar isso. É um Estado muito rico e com estradas desse jeito", apela o caminhoneiro.
INTEGRA DA PUBLICAÇÃO NO DIÁRIO OFICIAL DO ESTADO DO PARÁ
AVISO DE ANULAÇÃO DE LICITAÇÃO
NÚMERO DE PUBLICAÇÃO: 481576
MODALIDADE: CONCORRÊNCIA N.º 035/2012.
OBJETO: Restauração da Rodovia PA-150 trecho Goianésia do
Pará / Morada Nova, na Região de Integração do Lago de Tucuruí,
sob Jurisdição do 5º Núcleo Regional.
Comunicamos aos interessados, para os devidos ï¬ ns, inclusive
para exercer o direito ao contraditório, que o Secretário de
Estado de Transporte cancelou a Concorrência n° 035/2012, em
virtude da anulação do Edital, conforme despacho constante do
Processo nº 2012/535865.
Belém, 25 de janeiro de 2013.
JOSÉ GAUDENÇO BARRIO MENE