A redução do índice de mortalidade materna ainda é um desafio para o Brasil, que está longe de alcançar uma meta que faz parte de um compromisso internacional firmado em 2000.
Em tratado assinado com a Organização das Nações Unidas (ONU), o governo brasileiro se comprometeu a reduzir até 2015 o índice de mortalidade de grávidas para 30 óbitos a cada 100 mil nascidos vivos.
A meta não foi alcançada e, somente de janeiro a junho deste ano, o país já contabiliza a média de 62 óbitos para cada 100 mil nascidos vivos. Esse índice, que só cresce a cada ano, é hoje três vezes maior que o da Europa.
Nesse cenário, o Pará não foge à regra. Ocupa o quinto lugar no ranking nacional de estados com o maior número de grávidas que perdem a vida durante a gestação, segundo os dados do Sistema Único de Saúde (SUS), e amarga também um dos piores quadros de risco à maternidade: a média é de 55 mães mortas para cada 100 mil nascimentos, segundo as estimativas mais atualizadas, referentes a 2013.
No último relatório divulgado pelo Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (Datasus), em 2013, o Pará concentrou 120 casos de mortalidade materna, ficando abaixo somente de estados de maior densidade populacional como São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Minas Gerais. Em 2012, o número de óbitos foi de 94, nove a mais do que no ano anterior.
PODE SER PIOR
O mais preocupante é o fato de que, em um Estado como o Pará, formado por áreas indígenas, assentamentos rurais, terras quilombolas e ilhas, estima-se que o número de óbitos maternos possa ser bem maior do que os dados oficiais divulgados.
E a curva ascendente das mortes registradas entre 2011 e 2013 revela uma política pública deficiente, que tem na falta de atendimento à saúde a principal causa dessa mortalidade. É o que avalia o presidente da Associação Paraense de Ginecologia e Obstetrícia (APGO), Ricardo Quintairos.
Para ele, o principal problema é a falta da assistência pré-natal - que no SUS é quase nula e no sistema de saúde privado enfrenta resistências da área médica, devido aos reduzidos valores repassados pelos planos de saúde aos profissionais que prestam atendimento.
Vale lembrar: o acompanhamento pré-natal inclui toda uma programação, que inicia no primeiro momento da gravidez até o pós-parto. “O grande problema é que há muitas grávidas que chegam aos sete e até oito meses de gestação sem nunca ter ido ao posto de saúde”, questiona Ricardo Quintairos.